Café com valor agregado transformou a vida de cafeicultores de sete etnias indígenas
Com o apoio da ciência, extensão rural, além do incentivo privado, sete etnias indígenas de Rondônia passaram a plantar café na região. E o resultado foi que agora o produto possui valor agregado, o que transformou a vida desses cafeicultores e também de outros produtores do entorno. A tudo isso, chamamos de ‘inclusão socioprodutiva’.
De acordo com Ana Euler, diretora de Negócios da Embrapa, esse movimento de produção é tão importante para o Brasil a ponto de a estatal revisar o plano diretor para colocar a inclusão socioprodutiva entre as diretrizes dos trabalhos da Embrapa.
Café com valor agregado
Antes se plantava muita coisa, porém, não era o suficiente para sustentar toda a família. Agora, só o café com valor agregado já é possível manter todos os membros da família, afirma a cafeicultora da etnia Suruí que planta na região das Matas de Rondônia, Diná Suruí.
Com a melhora do processo de produção, o rendimento quase quadruplicou, movimentando a economia. Segundo o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, no processo anterior, os produtores vendiam o grão a atravessadores quase metade do preço de mercado. Hoje, o café que eles produzem é comercializado pelo dobro.
50 anos de café em Rondônia
O café chegou com força à Rondônia 50 anos atrás, ganhando força na década de 1980, durante um processo de colonização do estado. E o resultado disso foi que houve uma junção dos grãos vindos do Espírito Santo e de mudas de cultivares do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP), sofrendo uma polinização cruzada.
O cruzamento de ambas gerou uma planta híbrida, diferente das duas linhagens originais e adaptada às condições locais, e não sendo reconhecida pelos próprios produtores.
Foi aí que a ajuda da estatal foi essencial, uma vez que teve de convencer os produtores a trabalhar em um café de qualidade a partir de um bom manejo, diz a líder do movimento Mulheres do Café de Rondônia, Poliana Perrut.
Pesquisa para atingir o café de qualidade
A pesquisa para atingir o nível de café de qualidade ocorreu em parceria com a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), surgindo assim os sistemas agroflorestrais, aliados a técnicas de manejo para trabalhar com os grãos especiais. Em seguida, os cientistas ajudaram na conquista da denominação de origem Matas de Rondônia, exclusiva do grão produzido na região.
Café robusta amazônico
Agora, o café robusta amazônico é reconhecido como uma bebida de alta qualidade, como os de origem arábica. Consequentemente, a vida desses cafeicultores sofreu um salto gigante, economicamente falando. Perrut afirma ainda apenas em 2022, foram exportadas mil sacas de café, e no ano passado, 102 mil sacas. O café das Matas de Rondônia já está presente em 13 países.
Os indígenas da etnia Suruí agora podem desfrutar do aumento do nível de qualidade do grão. Eles revelam que adotaram de coração o cultivar da lavoura, o que mudou a visão de negócio deles. Além disso, Diná Suruí conta que este café venceu o prêmio nacional de Melhor Café Indígena, promovido pela empresa Três Corações, em 2019.
O sucesso maior ainda deve-se aos jovens que enxergaram no valor agregado a chance de continuar nas próprias terras, tocando a lavoura dos pais. A Celesty Suruí é um exemplo desta transição. Trata-se da primeira barista indígena do Brasil e que só tem 23 anos.
Sem avançar na floresta
Por fim, o café da Região das Matas de Rondônia conseguiu aumentar sua produção sem avançar desmatar a floresta. É o que revela o dado mais recente de uma pesquisa entre os anos de 2020 e 2023, o que demonstra a sustentabilidade da atividade.
*Foto: Reprodução/https://br.freepik.com/fotos-gratis/captura-aproximada-da-mao-masculina-colhendo-graos-de-cafe-vermelho-cereja-na-arvore_28741616.htm#fromView=search&page=1&position=1&uuid=de6905a3-d6df-4c1a-b2a2-243c524177ce