O consultor de fundos Armin Altweger faz uma avaliação sobre o crescimento dos investimentos chineses no Brasil, que ocorre em meio à pressão econômica ocidental
Recentemente, a relação comercial Brasil-China completou 50 anos. Apesar do aumento dos investimentos chineses no país, ainda existe uma pressão econômica e hostilidade vindas de países ocidentais, como os Estados Unidos e a União Europeia.
De acordo com Armin Altweger, empreendedor e consultor especializado em FIDCs, esse movimento foi impulsionado por mudanças econômicas, como o aumento das tarifas.
“Esses fatores têm fortalecido a presença de empresas chinesas no Brasil, especialmente em setores como energia renovável, veículos elétricos, infraestrutura e agricultura. O cenário global em transformação também abre oportunidades para a oferta de financiamentos de curto prazo e soluções para cadeias de suprimentos”, explica o especialista.
Aumento das tarifas sobre produtos da China
Com a imposição de taxas elevadas sobre produtos chineses pela União Europeia e Estados Unidos, as empresas chinesas começaram a buscar mercados alternativos, encontrando no Brasil oportunidades para expansão econômica e industrial.
Nos Estados Unidos, as tarifas sobre importações de carros elétricos chineses subiram de 25% para 100%, enquanto a União Europeia aplicou taxas que chegam a 48%. “Essas medidas, que visam proteger as indústrias locais, acabaram incentivando as empresas chinesas a buscarem mercados alternativos e novos lugares de produção”, analisa Altweger.
O Brasil como opção estratégica
Armin Altweger explica que a China viu no Brasil uma opção estratégica para negócios, principalmente devido às políticas comerciais favoráveis e ao ambiente acolhedor para investimentos estrangeiros.
De acordo com ele, a proposta do Brasil de elevar as taxas de importação de veículos elétricos para 35% até 2026 tem levado fabricantes internacionais a avaliar a possibilidade de estabelecer unidades de produção local. Empresas como Great Wall Motors (GWM) e BYD já iniciaram a expansão da produção de veículos elétricos e híbridos no país para aproveitar essa oportunidade.
Foco em ações sustentáveis
Com foco nos esforços globais em direção à implementação de energia limpa e ações sustentáveis, 72% dos investimentos chineses realizados no Brasil em 2023 foram destinados a iniciativas de energia renovável e sustentabilidade. O setor energético atraiu 39% do total investido, somando US$668 milhões, enquanto o setor automotivo, especialmente de veículos elétricos, recebeu 33% (US$568 milhões).
A Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN) é crucial para o fortalecimento das relações entre China e Brasil. Negociações recentes culminaram em acordos para modernizar a infraestrutura brasileira, impulsionar a energia renovável e colaborar em iniciativas de economia verde. Nas reuniões, o Brasil assegurou mais de R$24 bilhões em créditos, destacando a crescente cooperação financeira entre os dois países.
Entre 2007 e 2020, a China investiu US$66,1 bilhões no Brasil, representando 47% dos seus investimentos. Só em 2023, o território brasileiro recebeu US$1,73 bilhão em aportes chineses, um crescimento de 33%. “Embora os níveis de investimento tenham variado ao longo do tempo, o recente aumento demonstra um compromisso renovado em fortalecer as relações econômicas entre os países”, comenta Armin Altweger.
Agricultura e infraestrutura ganham destaque
O especialista afirma que outras áreas fundamentais do Brasil também recebem investimentos da China. Além dos setores automotivo e energético, as empresas chinesas têm realizado aplicações em transporte e logística, incluindo a construção de portos e melhorias na região amazônica.
No setor agrícola, a China é o maior mercado de exportação do Brasil, que envia produtos como soja, milho, açúcar, carne bovina e de frango. Empresas chinesas como a COFCO e a Chongqing Grain Group estabeleceram uma forte presença no país, investindo em áreas de cultivo, plantas de processamento e logística.
“Esses investimentos ajudam a garantir a segurança alimentar da China e, ao mesmo tempo, impulsionam o crescimento econômico no Brasil”, avalia Altweger.
Oportunidades de financiamento
O especialista avalia que a relação entre os países cria oportunidades para financiamentos de curto prazo e para a cadeia de suprimentos voltada a empresas chinesas no Brasil.
Historicamente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desempenhou um papel central no financiamento de longo prazo para projetos de infraestrutura e energia. No entanto, observa-se uma tendência crescente em direção ao uso de instrumentos de mercado e à diversificação das fontes de financiamento.
Armin Altweger explica que “o financiamento de curto prazo, como a antecipação de recebíveis, oferece às empresas chinesas a liquidez e a flexibilidade necessárias para gerir suas operações de forma mais eficiente”. Ele detalha ainda que essa abordagem ajuda a reduzir os riscos associados à volatilidade cambial e, ao explorar opções de financiamento local, as empresas chinesas podem alinhar melhor suas estratégias financeiras às suas operações no Brasil.
O especialista conclui em sua análise que a relação econômica e comercial entre Brasil e China promove a prosperidade de ambos os países. “Com um ambiente comercial global em constante mudança, a parceria entre essas nações é um exemplo de como os países podem se adaptar e encontrar benefícios mútuos”, encerra.
Sobre Armin Altweger
Armin Altweger é um empreendedor com mais de uma década de experiência no Brasil, especializado em finanças, inovação e desenvolvimento de produtos. Ele construiu sua carreira em empresas multinacionais como Andritz, Volkswagen e Audi, e é fluente em alemão, inglês e português.
Com formação em Gestão Internacional e Economia e um mestrado em Gestão de Produtos, ele cofundou a W1 Finance em 2010, expandindo a empresa de 20 para 350 consultores e alcançando mais de 50.000 clientes. Desde 2019, Altweger atua com fundos FIDC e impulsiona o uso de tecnologias como blockchain para tokenização e maior transparência nos investimentos no Brasil.