Doenças inflamatórias intestinais, segundo dois novos estudos, sugerem que tais quadros de saúde apresentam piora para quem já contraiu coronavírus
De acordo com dois novos estudos, entre os diversos impactos da covi-19 no organismo, pode haver a hipótese de uma piora nos quadros que geram as doenças inflamatórias intestinais.
Doenças inflamatórias intestinais
O primeiro estudo sobre doenças inflamatórias intestinais foi publicado no periódico científico Inflammatory Bowel Diseases. No caso, o levantamento avaliou em torno de 3.000 pacientes que possuem essas doenças. E o resultado foi que é bastante comum a ocorrência de sintomas intestinais como diarreia e dor abdominal durante a covid-19. Contudo, vale destacar que quando uma pessoa tem diarreia pode ser um alerta de que algo não vai bem em seu organismo, afirma o médico especialista em cirurgia do aparelho digestivo, Gustavo Menelau.
Por outro lado, o segundo estudo, publicado no American Journal of Gastroenterology, apresenta dois casos de adolescentes que eram saudáveis. Porém, eles tinham histórico familiar de doenças inflamatórias intestinais. Eles desenvolveram a doença de Crohn após a infecção pelo coronavírus.
Trato gastrointestinal
Segundo o gastrenterologista Rafael Ximenes, do Hospital Israelita Albert Einstein em Goiânia:
“Sabe-se que o coronavírus infecta o trato gastrointestinal, tanto que é comum os pacientes manifestarem sintomas como diarreia e náusea.”
Ele ainda afirmou que “a covid-19 pode ser, sim, um gatilho para a exacerbação dos sintomas em quem já tem a doença inflamatória”. Entretanto, o especialista explica que não é possível dizer que o coronavírus seja o único responsável pelo desenvolvimento da doença em pacientes até então saudáveis.
“Não podemos excluir a possibilidade que essas pessoas desenvolveriam a doença no futuro de qualquer forma”, diz Ximenes.
Contudo, pessoas que possuem doença inflamatória intestinal devem procurar orientação do seu médico caso tenham covid-19 para ajustar os medicamentos, se necessário. Mas, jamais interromper o tratamento por conta própria, como orienta o especialista.
Diagnóstico
As doenças inflamatórias intestinais afetam quase 10 milhões de pessoas no mundo e são o nome genérico para diversos distúrbios crônicos que acometem o trato gastrointestinal. As mais comuns são a doença de Crohn e a colite ulcerativa. Em comum, sabe-se que elas não têm uma causa bem definida, mas é certo que possuem componentes genéticos e imunológicos.
No caso da doença de Crohn, ela pode acometer qualquer parte do sistema digestivo, como estômago, esôfago e intestino. A inflamação nesses casos costuma ser mais profunda e atingir toda a parede do órgão. Já a colite causa feridas no cólon (intestino grosso) e reto, geralmente é mais superficial. Elas têm períodos de exacerbação e outros de melhora, com sintomas como dores abdominais, diarreia, fezes com muco, entre outros.
Ximenes revela que é justamente isso que acarreta na demora do diagnóstico. Portanto, na dúvida, é recomendada a dosagem de substâncias inflamatórias no sangue e nas fezes, além de exames de imagem como tomografia ou ressonância.
No entanto, a colonoscopia é o principal exame para diagnosticar o problema e excluir outras causas, como tumores.
Gatilho
Em contrapartida, na maior parte dos casos, não é possível identificar um gatilho para o surgimento da inflamação. Pesquisas revelam uma relação com excesso de alimentos industrializados. Já infecções por microrganismos como o citomegalovírus ou o Clostridium difficile também podem provocar exacerbação do quadro em quem tem doença inflamatória intestinal.
Sob controle
Todavia, mesmo que não tenha um cura para essas doenças, é possível mantê-las sob controle para evitar novas crises.
O tratamento inclui alterações nos hábitos de vida, como a dieta, e remédios. Os mais modernos são os biológicos – anticorpos produzidos em laboratório que combatem a inflamação. Em casos de obstrução intestinal, às vezes é preciso a realização de procedimento cirúrgico.
Por fim, se a pessoa não trata, a inflamação pode agredir as paredes do órgão, formando uma cicatriz, a fibrose, que nem sempre regride, o que pode causar estreitamento. No caso da retocolite, pode aumentar a chance de tumor no intestino.
*Foto: Reprodução